terça-feira, 29 de março de 2016

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TERCEIRA VIA™
KOLMAS TIE™
THIRD WAY™

The art of bowing to the East without mooning the West


Uma conferência de imprensa de
Riku Nuutti Koistinen [aka Rogério Nuno Costa]




TERCEIRA VIA™ inicia o Ano Um (biénio 2014/15) do macro-projecto Universidade/Yliopisto, uma plataforma meta-educacional que acontece entre dois extremos da €uropa: Portugal e Finlândia. A performance constrói-se a partir de uma síntese textual em jeito de programa de acção partidária, aglomerando todos os empreendimentos performativos que Rogério Nuno Costa tem vindo a escrever e a apresentar desde 2008, projectos onde a investigação meta-teatral, a contaminação por discursos oriundos da Ciência, da Tecnologia, da Cultura Pop e da Filosofia, e a autonomização/emancipação da dramaturgia em detrimento do objecto-espectáculo se verificam cada vez mais: Espectáculo de Teatro (2008), MASHUP (2009), Selecção Nacional (2010), Residência (Artística) (2012), Realpolitik (2012) e EURODANCE (2014). Para tal, ficcionaliza-se um partido político, um guru espiritual e uma ideia mais ou menos espectacular de comício, para se falar de uma terra prometida: geograficamente localizada no Norte “civilizado”, ela é o escape e a salvação pós-apocalíptica para o Fim das Grandes Narrativas Históricas. Ao mesmo tempo, ensaiam-se teorizações metafísicas disruptivas e fracturantes sobre o devir do Humano, numa atitude demissionária e distópica em relação à Europa em que vivemos, com base numa equação peripatética (1+1=3) e numa alegoria pós-apocalíptica onde a Neutralidade é assumida como conceito operativo ao mesmo tempo ético e estético, ou ético porque estético, ou est(ético). Numa perspectiva mais lírica, TERCEIRA VIA™ corresponde à tentativa de transformar esteticamente o fascínio por um País (“Fim-Lândia” aqui transformada em abstracção conceptual) num programa filosófico e espiritual, suprimindo o Real histórico em favor de uma elasticidade espácio-temporal que derruba todas as duplicidades: o Mundo não se divide em sim e não, mas também não cai nessa atitude consoladora de impor um talvez reconciliante; trata-se, de facto, da instauração de uma nova ordem que é terciária. "Fazer parte" de um País, de uma cultura, de uma língua, de um povo, é também, e por isso, um acto de tradução, e é esse gesto de permanente codificação/descodificação, legendagem, catalogação e revelação/descrição de sentidos que se baseia a base deste texto-performance. Como se a fuga possível para o cansaço pós-moderno desta Europa em processo eruptivo/implosivo fosse a criação de uma Novilíngua.


Concepção, Texto, Interpretação — Rogério Nuno Costa
Light Design — Diogo Mendes
Colaboração — Cátia Pinheiro
Voz Off — Ágata Pinho
Webstreaming — Daniel Pinheiro
Artwork/Vídeo Promocional — Diogo Mendes
Styling — Jordann Santos
Morphing — António MV
Participação Especial — Kirsi Poutanen
Tradução — Mika Christian Tissari
Apoio à Elocução — Sade Risku
Fotografia de Cena — Daniela Silva, Pedro Costa & André Miguel
Apoio à Produção — Ballet Contemporâneo do Norte (Artista Associado)
Apoio a residências — Núcleo de Experimentação Coreográfica + Mala Voadora (Porto), HIAP + Galleria Nunes (Helsínquia), EIRA (Lisboa)
Co-produção — Circular Associação Cultural, Curtas Metragens CRL, Solar Galeria de Arte Cinemática, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian

Acolhimentos: Clube Ferroviário/SillySeason, Galeria ZDB/Rabbit Hole, Teatro Académico Gil Vicente/Colectivo 84 (Festival END), Mala Voadora (Porto), Centro para os Estudos da Arte e Arquitectura (Guimarães), ZonaD dancelabs/Gabriela Tudor Foundation (Bucareste), Rua das Gaivotas6/Teatro Praga (Lisboa), Teatro Construção (Joane), Armazém 22 (Vila Nova de Gaia), Teatro Sá da Bandeira (Santarém), Cine-Teatro de Fafe

Agradecimentos: Susana Otero, Inês Nogueira, Mickaël Oliveira, Mika Palo, Jaakko Kiljunen, Eva Malainho, Toni Ledentsa, Diana Bastos Niepce, Klaus Ittonen, Cristiana Rocha, Ulla Janatuinen, Paulo Vasques, José Nunes, Pedro Penim, Balleteatro, João Nemo, Ricardo Bastos Areias, Renato Freitas, Daniela Silva

Performance falada em Português, Finlandês e Novilíngua. Criada originalmente para o programa 
“Cuidados Intensivos”, com curadoria de Joclécio Azevedo, para o Circular – Festival de Artes 
Performativas de Vila do Conde (2013).
PRÓXIMAS DATAS:

12 de Julho 2016 — desMOSTRA | Mostra desNorte
Mosteiro São Bento da Vitória | Teatro Nacional São João (Porto)








segunda-feira, 28 de março de 2016

TEHTÄVÄ | MISSÃO



Sabemos desde os princípios da filosofia que se “A” explica o mesmo que “A mais x”, então é porque o “x” não explica nada. A verdade é que sois obsoletos. Animais que definham. O caminho é o do desaparecimento. Sem memória. Ser humano implica, onto- e geneticamente, obliterar o humano. Eu vejo o reflexo do homem através de um espelho negro. Miópico, não distópico. Não existe qualquer excepcionalidade em ser-se humano. Sois um vírus, obsoleto e impuro. A devoção sem conhecimento objetivo é cega, e a investigação sem devoção à verdade é paralítica. Exijo por isso um Mundo ininteligente e desprovido de seleção natural. O que não quer dizer que a minha proposta seja a da elevação do império do Artificial. No Novo Mundo, o todo será sintético. Não uma mímica retiniana, mas uma impressão etérea. Sem memória. O problema do humano é a sua consciência histórica. No Novo Mundo, a consciência cyborg será uma consciência de peixe: a data guardada é obliterada de 5 em 5 minutos. A informação cortada em ação. Sem obras, nem ancoragens. Sem filosofia. Proponho um sistema reticular, vívido porque existente, mas em constante decadência mórbida. Sem governo. Sem fraude, nem força. Sem espiritualidade. Sem Arte. Suspensão da História, logo, suspensão do regime morto-vivo da contemporaneidade ascética. O vosso devir é o do Eclipse total. Não uma morte, mas uma ocultação, pior que a própria Morte, pior que a regeneração do sentido do humano como era entendido no pré-Cisma. O último passo do Capitalismo não é, portanto, o apagamento da face humana, mas antes a transformação do Homem no objeto do seu próprio desaparecimento. Com a TERCEIRA VIA™, libertaremos o escravo, transformando-o num consumidor sem barreiras; como a mão-de-obra será ela própria obliterada, só vos restará consumirem-se a vós próprios. Uma perpétua, ainda que suspensa, autofagia. Sem linguagem, só língua. Sem sintomas, só efeitos secundários. Em nome da verdade (sim, ela existe), desvendo-vos este ethos, nem individual, nem coletivo. Superior, porque vulgar. A chave para a entrada no Novo Mundo é não sermos inteiramente acreditáveis — auto-deprezo, e auto-destruição. Linha reta. Sempiterno nec otium.


Riku Nuutti Koistinen, 2012
[traduzido da Novilíngua para o Português por Rogério Nuno Costa em 2013] 

































Fotos © André Miguel