segunda-feira, 28 de março de 2016

TEHTÄVÄ | MISSÃO



Sabemos desde os princípios da filosofia que se “A” explica o mesmo que “A mais x”, então é porque o “x” não explica nada. A verdade é que sois obsoletos. Animais que definham. O caminho é o do desaparecimento. Sem memória. Ser humano implica, onto- e geneticamente, obliterar o humano. Eu vejo o reflexo do homem através de um espelho negro. Miópico, não distópico. Não existe qualquer excepcionalidade em ser-se humano. Sois um vírus, obsoleto e impuro. A devoção sem conhecimento objetivo é cega, e a investigação sem devoção à verdade é paralítica. Exijo por isso um Mundo ininteligente e desprovido de seleção natural. O que não quer dizer que a minha proposta seja a da elevação do império do Artificial. No Novo Mundo, o todo será sintético. Não uma mímica retiniana, mas uma impressão etérea. Sem memória. O problema do humano é a sua consciência histórica. No Novo Mundo, a consciência cyborg será uma consciência de peixe: a data guardada é obliterada de 5 em 5 minutos. A informação cortada em ação. Sem obras, nem ancoragens. Sem filosofia. Proponho um sistema reticular, vívido porque existente, mas em constante decadência mórbida. Sem governo. Sem fraude, nem força. Sem espiritualidade. Sem Arte. Suspensão da História, logo, suspensão do regime morto-vivo da contemporaneidade ascética. O vosso devir é o do Eclipse total. Não uma morte, mas uma ocultação, pior que a própria Morte, pior que a regeneração do sentido do humano como era entendido no pré-Cisma. O último passo do Capitalismo não é, portanto, o apagamento da face humana, mas antes a transformação do Homem no objeto do seu próprio desaparecimento. Com a TERCEIRA VIA™, libertaremos o escravo, transformando-o num consumidor sem barreiras; como a mão-de-obra será ela própria obliterada, só vos restará consumirem-se a vós próprios. Uma perpétua, ainda que suspensa, autofagia. Sem linguagem, só língua. Sem sintomas, só efeitos secundários. Em nome da verdade (sim, ela existe), desvendo-vos este ethos, nem individual, nem coletivo. Superior, porque vulgar. A chave para a entrada no Novo Mundo é não sermos inteiramente acreditáveis — auto-deprezo, e auto-destruição. Linha reta. Sempiterno nec otium.


Riku Nuutti Koistinen, 2012
[traduzido da Novilíngua para o Português por Rogério Nuno Costa em 2013] 

































Fotos © André Miguel